A Terminologia Equina

Texto escrito após uma cavalgada com amigos no dia 2/11/1997:

Hipomanias à parte, todos elevaram seu grau de hipodromia. No início estávamos todos um pouco hipotensos e discutíamos as hipóteses mas ficamos mais calmos à medida que precebíamos que atingiríamos o hipogeu. O único incidente foi um caso leve de hipoplasia dupla. No final, é claro, ficamos todos hipostênicos e até um pouco hipocondríacos. Naturalmente, por termos hipotecado bastante, desenvol­ve­mos hipófises diversas mas com uma pasta à base de hipoglosso conseguimos evitar a formação de hipóforas na hipoderme. Como todos éramos amigos não houve hipocrisias e como ninguém hiperbolou nem trombou com um hipotálamo não houve necessidade de usar um hipocentro nem de chamar um hipotético (e ninguém ficou tentado a cometer hipofagia!). Agora todos queremos ficar hipocalêmicos para podermos repetir a dose.

(Se teve dificuldade com a terminologia espe­cífica não desanime e consulte o glossário abaixo.)

Glossário de Terminologia Equina

Homem e cavalo têm uma longa história que remonta a milênios. Quando a vida do homem girava em torno do cavalo – a produção agrícola, o transporte, a riqueza e a força na batalha – desenvolveu-se todo um vocabulário específico iniciado pelo prefixo hipo (do grego híppos, que significa cavalo). Com a mecanização da sociedade humana muito desse vocabulário se perdeu e, em alguns casos, até mudou de significado. Por exemplo, alguém que tinha um cavalo passou a ter menos do que quem tinha um automóvel. Quem usava o arado puxado a cavalo, de muito favorecido passou a ser pouco favorecido quando surgiu o trator. Assim, aos poucos, o prefixo hipo assumui outro significado: pouco, menor, insuficiente, baixo (ex.: hipotensão – pressão arterial baixa, menor ou insuficiente). Em homenagem ao nobre animal resgatamos aqui alguns dos antigos vocábulos com seu significado original.

hipérbole – Trajetória quando se cai do cavalo.

hipocalemia – Calosidades nos glúteos de tanto andar a cavalo.

hipocampo – Campo arado por cavaleiros que caem de seus cavalos – técnica alentejana.

hipocentro – 1. Centro de tratamento para pessoas que andam a, ou caem do, cavalo. 2. Teoria em que o cavalo é o centro do universo.

hipocondríaco – Pessoa que tem a mania de estar doente (“parece que andei a cavalo”).

hipocrisia – 1. Fingir que não caiu do cavalo; 2. Fingir que não ralou os glúteos; 3. Soltar gases e colocar a culpa no cavalo.

hipoderme – Pele glutea que descola após se andar a cavalo (veja hipófise).

hipodromia – A arte de correr com o cavalo.

hipofagia – Prática de cavaleiros enlouquecidos de comer o cavalo.

hipófise – Tipo de bolha que dá nos glúteos quando se anda muito a cavalo.

hipófora – Úlcera profunda e fistulosa decorrente do agravamento de uma hipófise.

hipogeu – Andar e não cair do cavalo.

hipoglosso – 1. Pessoa rude, grossa que nem um cavalo; 2. Erva medicinal utilizada no tratamento de hipófises.

hipoplasia – Espasmos musculares anômalos observados em cavalo e/ou cavaleiro quando um não se sente muito à vontade com o outro. (também conhecido como Síndrome Alexandrina).

hipostenia – Enfraquecimento ou prostração após cavalgada; em geral acompanhada de dores musculares (popular: hipolom­beira).

hipotálamo/hipotalo – Galho de árvore em que você bate e cai do cavalo.

hipotecar – Quicar na sela quando o cavalo trota ou galopa.

hipotensão – Tensão gerada pela perspectiva de cavalgar (algo similar, mas mais forte do que, a TPM).

hipótese –Palpite referente a 1. quantas vezes se vai cair do cavalo; 2. Quantas hipófises se vai desenvolver.

hipotético – Que faz próteses para quem cai do cavalo.

hipoxia – falta de ar quando se cai do cavalo

Entendeu o texto agora? Curiosamente, vejam o que foi publicado em jornais no dia seguinte:

Contrariando as tendências de baixa nas bolsas de valores de todo o mundo e especialmente do Rio de Ja­nei­­ro, houve, no dia 3/11/97, um aumento verti­ginoso de 10% no va­lor das ações da Merrell Lepetit Farma­cêutica S.A. A em­pre­sa fa­­brica, entre outros medica­men­tos, a pomada Hipoglós e suas ações são co­mercializadas na bol­sa do Rio. O mais estranho é que a boa­taria que deu orígem ao au­men­to começou no domingo, dia 2/11, em que não há pre­gão. Por incrível que pareça o com­por­ta­mento do merca­do corres­pondeu ao aumento da cotação das ações quando uma série de farmácias 24 horas do Rio solicitou à Merrell uma boa quan­tidade da pomada Hipoglós para reposição de seus es­­to­­ques que foram simplesmente dilapidados no dia anterior – o domingo, dia 2.

O estranho fenômeno ainda não tem explicação mas isso não parece incomodar em nada o novo sócio majoritário da Merrell, o Haras Analú, que vem aumentando sua participação acionária há 3 anos. Desde então as ações da Merrell não param de valorizar. A CVM desconfia que algum tipo de manipulação esteja acontecendo mas o fato é que o mercado carioca vem aumentando o consumo de Hipoglós. Quando indagado a respeito, o engenheiro Luiz Henrique, dono do Haras Analú, respondeu comedida­mente: “Nós apenas tentamos estimular um pouco o consumo do nosso produto.” Bota estímulo nisso!

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